sábado, 9 de junho de 2007

Cãosiderações


Gosto de pessoas. Gosto mesmo.

A sua ambiguidade hipócrito-natural fascina-me.

São de uma falsidade muitas das vezes tocante, nos mais variados sentidos que se possam dar à palavra.
Gosto.

Gosto da maneira como se falam e/ou olham e/ou, por vezes e não necessariamente por esta ordem, tocam com desdém, com consideração, com amor, com ódio, com timidez, com desfaçatez, com preocupação, com desinteresse, com humildade, com sobranceria, com amizade, com rivalidade, com humanidade e mesmo com selvajaria, ou de várias ou mesmo todas as maneiras em simultâneo.

Tenha-se contudo em atenção que a perfídia que - em maior ou menor quantidade, mas inevitavelmente - lhes corre no ser, as torna pródigas em fazer parecer ser o que não é, tornando frequente a dúvida perante o que, parecendo sê-lo, realmente o é (ou foi).

Adoro pessoas. Adoro mesmo.

A pureza dos seus sentimentos - quando, posto de parte qualquer interesse ou mesmo a própria razão, esta é real -, é encantadora e intrigante.

Adoro.

Adoro a maneira como tanto se matam e esfolam, como se aconchegam com ternura. Podem com mesma maneira "naturalidade" desejar uma sórdida vingança ou uma correspondência amorosa, ambas de forma igualmente arrebatadora, ou não estivesse a génese da sua violência na discrepância entre desejo e realidade.

Seres de extremos.

É bom vê-lo daqui de fora, à confortável vantagem da distinção de espécies.

Connosco é tudo diferente, tudo natural.

Quis-se que fôssemos ligeiros na abordagem da vida por natureza.

E acaba por ser cómodo guiarmo-nos pelos instintos.

Correr atrás de gatos, carteiros ou outros profissionais, dar ao rabo quando estamos satisfeitos, levantar a pata nas bocas de incêndio ou nos vasos da vizinha, enterrar ossos, cheiricar rabiosques, emprenhar a Pitucha ou tentar fazê-lo à perna das visitas, devolver a bola ao dono para que a atire de novo para longe, ladrar, rosnar, ganir, uivar ou latir, dormir, comer ou fazer cócó nos passeios, é tudo natural e feito sem fingimento. Não há duplos significados ou significados ocultos. Nem bajulações.

Gosto de pessoas.

Adoro pessoas.

Mas prefiro canitos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mas o que é isto?! Quem é que escreveu esta bodega?! Um cão com o período?
Tá tudo perdido...