segunda-feira, 23 de abril de 2007

Sulplesa!


Naquele dia decidi mudar de rotina, e lá fui eu ao mesmo restaurante de sempre.

- Hum... Ora bem, Zé Carlos, pode ser uma salada de túbaros, mal passados. Não exagerem é no pus, que é muito indigesto ao almoço... Para beber, pode ser um jarro de urina! Fresquinha!

A empregada não mudara de expressão. Os seus olhos mantinham-se bem abertos - quer dizer... lá à maneira deles... - e alternavam entre o imaculado bloco de notas e o meu sorriso quasi-triunfal. Flirtámos em silêncio.

Vi então que a minha piadola não arrancara qualquer reacção. O restaurante mantinha-se imóvel, mudo.

Reformulei, apontando paciente e displicentemente para o cardápio já gasto mas sempre cheio de gralhas:

- Um clepe, um qualenta e tlês e um Tlinalanjus de maçã - rosnei.

Ela acenou com a cabeça e retirou-se sorridente e subserviente com passinhos curtos.

Foi então que voltou a depressão, que senti o vazio. Estava de novo sozinho no restaurante chinês ao fundo da minha vida.
Senti pena de nós. Provavelmente acabara de chegar, clandestina nalgum contentor atulhado de bugigangas made atrás do sol posto. O seu silêncio e o seu ar assustado denunciavam-na. E a mim também.

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